Bons pais precisam ser disponíveis, não perfeitos

02/06/2025 às 10h24

Dra. Anelise Meurer Renner

Dra. Anelise Meurer Renner

– Psicóloga (CRP 07/23515)

Bons pais precisam ser disponíveis, não perfeitos
Bons pais precisam ser disponíveis, não perfeitos

 

A última coluna que escrevi para o jornal falava sobre os desafios da parentalidade e trazia uma reflexão provocadora: estamos dispostos a viver pelos nossos filhos? Entre as questões levantadas estava a ideia de olhar para si mesmo, prestar atenção aos pontos que podem ser aprimorados e investir para melhorar. No entanto, ao mesmo tempo que levantamos essas questões, encontramos muitos pais com a sensação constante de que estão falhando, de que não estão sendo suficientes, que muitas coisas precisam ser melhoradas.
A sensação de insuficiência aparece de muitas formas: seja na dificuldade em ter todas as questões organizadas - como a casa e a rotina alimentar ou, mais frequentemente, por não ter tanto tempo quanto gostariam com os seus filhos em meio às demandas de trabalho. Existe uma pressão, principalmente relatada pelas mulheres, que diz que precisamos dar conta de tudo da forma mais perfeita possível - como se errar não fosse uma possibilidade.
Mas... e se não precisássemos acertar sempre para sermos bons pais? E se, ao invés da perfeição, o que as crianças realmente precisam é de pais humanos - com erros e acertos, mas disponíveis para crescer junto com eles?
Ser um pai ou uma mãe disponível é, antes de tudo, estar verdadeiramente presente. É olhar nos olhos, ouvir de verdade, mas também reconhecer quando erra e reparar. Ao estar disponível para assumir o erro, pedir desculpas e buscar uma reparação, ensinamos através do exemplo. Ao ficar em uma posição de vulnerabilidade, ensinamos sobre as relações, sobre limites e sobre como lidar quando as coisas não saem como o esperado. Poder recalcular a rota quando necessário também ensina sobre a flexibilidade que muitas vezes nos é exigida no decorrer da vida adulta.
O mito da perfeição parental não é só inalcançável, como traz sofrimento. Enquanto a realidade é feita de dias bons e outros nem tanto, de acertos e erros. Acolher a imperfeição, aceitar que podemos melhorar sem transformar isso em culpa, também ensina os nossos filhos a lidarem com eles mesmos de forma mais gentil e resiliente.
No fim das contas, nossos filhos vão crescer com a memória de como se sentiram ao nosso lado. E sentir-se visto, escutado e amado %u2014 mesmo quando as coisas não estão perfeitas %u2014 é um presente. É isso que constrói laços verdadeiros, ao mesmo tempo que, na prática, ensina sobre humanidade, empatia e aceitação. Para conseguir isso precisamos aprender a ser gentis conosco mesmo, exercitar a autocompaixão. Afinal, filhos que crescem com pais que se tratam com respeito e compreensão aprendem, com o exemplo, a fazer o mesmo consigo. Cuidar de si é, também, uma forma profunda de cuidar dos outros.