Padre natural de Salvador do Sul lidera ação humanitária em aldeia indígena no Mato Grosso

23/07/2025 às 09:02 - Salvador do Sul

 

A realidade de uma comunidade indígena vinda da Venezuela, que vive em situação extrema de vulnerabilidade no Estado do Mato Grosso, tem mobilizado o coração e a ação de um filho de Salvador do Sul. O professor Aloir Paccini, da Universidade Federal de Mato Grosso, especialista em antropologia, diz que a comunidade indígena enfrenta uma crise de invisibilidade social que resulta em condições de vida insustentáveis. Ele tem prestado apoio direto às famílias da aldeia, onde a falta de saneamento básico e infraestrutura mínima já causou a morte de quatro crianças por verminose e desnutrição.

Diante do cenário alarmante, o professor e sua família, que ainda reside em Salvador do Sul, iniciaram uma campanha solidária por meio de uma vakinha online, com o objetivo de arrecadar recursos para a construção de banheiros e uma fossa séptica na aldeia. A mobilização tem como foco garantir condições mais dignas de vida e evitar novas tragédias.

Em entrevista ao nosso jornal, o padre Aloir compartilha o que tem presenciado no local, fala sobre as necessidades urgentes da comunidade e reforça o apelo à solidariedade de quem pode contribuir com essa causa tão urgente quanto humana. Confira:

 

Padre natural de Salvador do Sul lidera ação humanitária em aldeia indígena no Mato Grosso
Padre natural de Salvador do Sul lidera ação humanitária em aldeia indígena no Mato Grosso
Padre natural de Salvador do Sul lidera ação humanitária em aldeia indígena no Mato Grosso
Padre natural de Salvador do Sul lidera ação humanitária em aldeia indígena no Mato Grosso
  • Padre Aloir, como surgiu seu envolvimento com essa comunidade indígena venezuelana no Mato Grosso, e o que o motivou a atuar tão diretamente nessa realidade tão desafiadora?

O meu envolvimento com a comunidade indígena Warao teve início no final de 2019, quando eles começaram a chegar a Cuiabá e se instalaram, inicialmente, nas proximidades da rodoviária. Diante da vulnerabilidade em que viviam, a prefeitura os encaminhou para o bairro Parque Cuiabá, uma área periférica da cidade. Foi ali que me aproximei mais diretamente, levando colchões e ventiladores para ajudá-los a suportar o calor intenso da região.

Naquele momento, os Warao enfrentavam dificuldades extremas, agravadas pela pandemia. Começaram a alugar casas de forma muito precária e com enorme dificuldade de se manter. Por um período, estive afastado para realizar meu pós-doutorado na Unisinos, durante o ano de 2021. Quando retornei, a situação havia se agravado ainda mais: eles não conseguiam pagar os aluguéis e viviam em condições de grande precariedade, não apenas habitacional, mas também nas áreas de saúde, educação e segurança alimentar.

O que me motivou a atuar tão diretamente foi perceber que, além de serem refugiados de um país em crise, os Warao também enfrentam uma dupla exclusão: por serem venezuelanos e por serem indígenas. Esse preconceito os impede, muitas vezes, de conseguir trabalho digno, dificultando ainda mais sua permanência e inserção social. É uma realidade de diáspora, dor e invisibilidade que não pode ser ignorada.

 

 

Padre natural de Salvador do Sul lidera ação humanitária em aldeia indígena no Mato Grosso
Padre natural de Salvador do Sul lidera ação humanitária em aldeia indígena no Mato Grosso

Infelizmente, já foram registradas quatro mortes de crianças na aldeia por verminose e desnutrição. O que o senhor tem presenciado no dia a dia dessa comunidade e quais são as maiores urgências enfrentadas por essas famílias?

 

O que tenho presenciado no cotidiano da comunidade Warao são situações de extrema fragilidade, especialmente entre as crianças. Os relatos de mortes são dolorosos e recorrentes. Em 2022, por exemplo, testemunhamos o falecimento do bebê de Virgília Zapata Yovar, ainda no hospital Santa Helena, e também do pequeno Endri Jesus Mata Zapata, que veio de Rondonópolis com um tumor na testa. A família suspeita que, por dormirem no chão de barro, o menino possa ter sido picado por um escorpião ou cobra.

Em maio de 2022, outra criança, Andru Rojas Moreno, faleceu no Pronto Socorro de Cuiabá após episódios de vômito com sangue. Embora tenha recebido uma bolsa de sangue, seu coração não resistiu após nova crise. Em junho de 2023, mais uma tragédia: Flanyelis Moreno Zapata, neta de Santa Moreno e filha de Merelys Moreno, que está grávida de sete meses, faleceu e foi velada com rituais tradicionais da comunidade, além das exéquias católicas.

A comunidade vive em casas superlotadas e sem condições sanitárias. Em uma das residências, moravam 35 pessoas; em outra, 27. As crianças dormem em ambientes inadequados, e a falta de saneamento básico contribui diretamente para os casos de verminose e desnutrição. A precariedade das condições de moradia, a insegurança alimentar e a ausência de atendimento de saúde adequado tornam-se uma combinação fatal. Há também sofrimento psicológico, como no caso do pai de Flanyelis, que após a perda da filha ainda foi acusado pelo Conselho Tutelar de ser o responsável pela morte, intensificando a dor da família.

A maior urgência hoje é proporcionar condições mínimas de dignidade: saneamento básico, água potável, moradias apropriadas e alimentação. A saúde das crianças, especialmente, depende disso.

 

 

Padre natural de Salvador do Sul lidera ação humanitária em aldeia indígena no Mato Grosso
Padre natural de Salvador do Sul lidera ação humanitária em aldeia indígena no Mato Grosso

Sabemos que sua família, em Salvador do Sul, está ajudando a divulgar uma vakinha para ajudar na construção de banheiros e de uma fossa séptica. De que forma essa iniciativa pode transformar a realidade da aldeia e como as pessoas podem colaborar?
Essa iniciativa de arrecadação tem um papel fundamental na transformação da realidade da comunidade Warao em Cuiabá. Diante da ausência de apoio governamental suficiente, a alternativa encontrada foi adquirir uma chácara para a constituição de uma nova aldeia. Esse local hoje abriga 19 famílias e está sendo estruturado para oferecer o mínimo de dignidade aos seus moradores.


A construção de banheiros e a instalação de caixas d’água nesse espaço são ações urgentes e decisivas. Esses recursos podem evitar os problemas recorrentes de verminose e desnutrição, que têm sido as principais causas dos problemas de saúde e, infelizmente, de óbitos de crianças. Ter acesso ao saneamento básico não é apenas uma questão de conforto, mas de sobrevivência.


Mesmo com tantas perdas, é importante destacar que muitos casos de superação também têm ocorrido. Com a implantação da estrutura no novo espaço %u2014 chamado Recanto das Aves %u2014 já é possível ver crianças brincando, saudáveis e alegres, sinal de que ações concretas geram resultados reais.


Agradeço profundamente a todos, em Salvador do Sul, por se mobilizar nessa vakinha. A solidariedade de quem compreende essa realidade é o que está possibilitando que a comunidade Warao tenha uma chance de recomeçar com mais dignidade. Aqueles que desejarem colaborar com essa causa podem se unir a essa corrente do bem e contribuir para esse gesto de humanidade.

Como Ajudar a Comunidade Indígena Warao em Cuiabá

 

A Arquidiocese de Cuiabá está mobilizada para melhorar as condições de vida da comunidade indígena Warao, que veio da Venezuela e hoje vive na Chácara Recanto das Aves, no Distrito Nova Esperança (Cuiabá-MT).
Atualmente, vivem no local 19 famílias em situação de grande vulnerabilidade. Já foram registradas quatro mortes de crianças por desnutrição e doenças causadas pela falta de saneamento. Por isso, estamos iniciando a construção de 6 banheiros (3 masculinos e 3 femininos) e a instalação de uma fossa séptica de 5 mil litros, para garantir condições básicas de saúde e dignidade.
O custo total da obra é de R$ 48 mil. Já conseguimos R$ 16 mil, mas ainda faltam R$ 21 mil para cobrir despesas com mão de obra e materiais de construção (brita, areia, cimento, tubos de esgoto, acabamentos, etc.).
Você pode ajudar com qualquer valor, via PIX ou transferência bancária:
Chave PIX: (65) 99971-9486
Banco do Brasil
Agência: 3325-1
Conta Poupança: 86403-0
Variação: 81
CPF: 804.162.688-2
Enviar comprovante para o WhatsApp: (65) 99971-9486
Todo valor será prestado conta e revertido diretamente em benefício da comunidade. Caso haja sobra, será utilizada para a reforma de outros banheiros no local.
Agradecemos de coração pela sua solidariedade.
Padres Aloir Pacini e Deusdedit Monge de Almeida, Maria da Paz Vilela (Pastoral da Esperança), Marilza Shuina e Marinete Souza (CEBs).

Como Ajudar a Comunidade Indígena Warao em Cuiabá
Como Ajudar a Comunidade Indígena Warao em Cuiabá